Friday, March 04, 2011

O Opel Manta Steinmetz da Motorang

O automobilismo desportivo em Angola, antes da independência, era dos desportos mais populares, levando a melhor sobre o futebol.
Em crescimento constante, a modalidade recebia todos os anos novas máquinas que procuravam o entusiasmo de milhares de espectadores dos autódromos e dos circuitos de cidade. Dessas, o Opel Manta amarelo foi um dos grandes animadores das corridas.

O carro até nem era muito potente e, para além disso era pesado. Tratava-se duma versão rally, adaptada para circuitos. Tal como chegou da Alemanha, assim correu durante duas épocas, isto é sem qualquer melhoramento técnico.
Mas foram duas épocas cheias de sucesso, embora o carro nunca tenha chegado em primeiro.

Um belo dia, a Motorang, empresa importadora para Angola da gama Opel, decidiu entrar oficialmente nas competições. Alguns cliente usavam Opel nos ralis e velocidade, Ascona 1.9 e Commodore GSE, respectivamente. Faltava a exemplo da Alfa Romeo e da BMWm uma representação oficial da casa de Russelsheim. O consagrado piloto António Silva Machado, foi encarregado de se deslocar às instalações do preparador Steinmetz para escolher de entre as propostas de usados existentes na altura um carro não muito caro mas em condições de correr. Machado fizera algumas provas ao volante dum Opel GT, conhecia bem a mecânica da marca. “Quando vi o Opel Amarelo”, recorda Silveira Machado, “fiquei logo apaixonado”. Foi amor à primeira vista. Quando o carro chegou a Luanda foi alvo imediato da curiosidade da imprensa especializada. Era mais uma unidade a enriquecer o já excelente parque desportivo. Amarelo, com uma faixa lateral preta, lindas jantes BBS, largos pneus, o Manta encantava os sentidos.

Inscrito de imediato no Campeonato de Velocidade, o carro estreava-se nas “3 horas da Huila” com Silveira Machado e o autor destas linhas ao volante.
Logo depois alinhava nas “6 horas de Nova Lisboa” com a mesma dupla onde obtinha um excelente 10º lugar na geral. De notar que esta prova era muito popular e recebia a nata dos pilotos portugueses e estrangeiros na categoria de sport-protótipos 2.0 litros, umas barquetas com nomes como Lola, Chevron, com motores de formula 2 BMW ou Ford Croworth.
O manta com o seu motor 2.0 de carburador e sem cabeça crossflow, primou pela regularidade e resistência.
Na época seguinte o carro voltou ao campeonato sempre em nome da Motorang, onde foi um dos grandes animadores de duelos épicos com BMW’s Schnitzer e Alfa Romeo’s GTA do saudoso grupo 2 de então.

O ponto mais alto da sua carreira foi um 5º lugar na geral nas “6 horas de Nova Lisboa” graças ao concurso de Henrique Cardão em equipa com o signatário.
Acabaria por ter um fim inglório no circuito de Novo Redondo, quando uma biela decidiu sair para o ar livre. O carro não seria reparado e consta que, mais tarde com um motor normal, ainda foi visto a circular nas ruas de Luanda depois da independência.

Recordações Fortes

É interessante ver como um carro que nunca ganhou uma corrida pudesse ser tão popular e tão acarinhado no meio dos entusiastas das corridas. Para além da elegância das suas linhas e da cor, o Manta amarelo fazia o encanto dos ouvidos com o seu ronco saído do escape sob a porta. Não debitava mais de 165 cavalos de potência mas tinha duas grandes vantagens em relação aos adversários: os travões Brembo, de disco nas quatro rodas, permitiam encurtar as travagens em distancias impensáveis a outros concorrentes; a caixa de velocidades, uma Getrag de cinco marchas, suportava tudo e mais alguma coisa, até mesmo funcionar sem embraiagem, como chegou a acontecer em algumas ocasiões. Finalmente a estabilidade do carro era muito boa, o que permitia tirar o máximo rendimento do motor, sobretudo em curvas de alta. Convém frisar que o carro corria contra BMW’s e Alfas que na altura já ultrapassavam os 180 cv de potência, graças aos seus motores de injecção. O grande inconveniente do carro era a direcção, não assistida, pesadíssima devido à imensa largura dos pneus. Cansava muito os braços e fazia-me perder uns bons litros de água no final das corridas.
(TEXTO: Helder de Sousa)



 










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